Sofia
Na noite daquele dia,
percebeu que não conseguiria segurar mais. Estava angustiada e sabia
exatamente o que deveria ser feito a respeito do que tinha
acontecido.
Telefone em mãos foi
se deixando discar os números.
- Oi... Acho que a
gente precisa conversar. – disse Sofia, sem conseguir esconder a
aflição.
- Nossa... Pelo visto
tem alguma coisa errada.
- Estou indo ai... Tudo
bem? – enquanto ainda falava rapidamente se levantou, foi até a
cozinha, tomou uma aspirina e pegou as chaves do carro.
- Ok.
Se aproximando da
porta, suspirou uma ultima vez e tocou a campainha.
- O que aconteceu? –
perguntou Clara com o olhar preocupado.
- Não sei se você vai
gostar muito do que vou te contar, mas somos amigas não somos?
Aliás... Melhores amigas, certo? – disse Sofia entrando e fechando
a porta em seguida.
- Sim...
Sofia se sentou
calmamente no sofá, puxou Clara para sentar-se ao seu lado e começou
contando como conheceu Thomas. Não entrara em detalhes, pois queria
logo acabar com aquilo. Depois de contar sobre o incidente de ter
encontrado o ex, e Thomas a ter ajudado a escapar dele, começou a
sentir a garganta secar, porque se aproximava o momento de falar
sobre o beijo, que por hora, era a notícia mais inquietante.
Falou sobre a
lanchonete, a torre, a garçonete esquisita... Enfim, chegou até o
momento ápice de toda a situação, o beijo.
Clara a fitava, com o
rosto sem expressão como de um manequim de loja. Sofia acreditava
que nunca tivera visto a amiga daquele jeito. Era um olhar gélido e
distante.
- Clara, me desculpe.
Não foi minha intenção... - ao dizer essas palavras sentia um
aperto na garganta e o olhar da amiga ainda não mudara. - eu nunca
faria isso com você intencionalmente... Me perdoe, por favor.
Clara
Clara esfregou a parte
de trás do pescoço com as mãos olhando para baixo. A única coisa
que vinha em sua mente era a imagem de sua amiga beijando Thomas.
Apoiou a testa na mão direita e suspirou.
- Me deixa sozinha um
pouco... Preciso pensar. – essa foram as únicas coisas que
conseguiu dizer, naquele momento.
Sofia
Sofia a fitou ainda
angustiada tentou pegar a mão da amiga que de uma forma arisca se
afastou. Levantou-se e foi até a porta se sentindo como um monstro.
Caminhou até o carro
com a mente desligada do ambiente externo e ao fundo ouvindo as
palavras da amiga com a imagem da mão dela se afastando. Ela sentia
que talvez o perdão pudesse nunca acontecer, e ela se sentia ainda
mais apavorada com isso.
Ao entrar em casa a
única coisa que pensou ser o mais inteligente a se fazer foi ligar
para Thomas.
- Eu me encontrei com
Clara hoje.
- Eu acabei de ligar
para a casa dela, mas ela não me atendeu.
- Eu contei sobre o
beijo... Senti que era a coisa certa, somos melhores amigas, não
podia esconder isso dela. Você pode me odiar e falar que aquilo não
foi nada de mais e que não era preciso contar, mas eu não consegui.
Me desculpa.
Depois do desabafo,
alguns segundos de silêncio. Três ou cinco, mas com certeza soaram
como horas.
- Eu não ia dizer
isso... Na verdade Sofia, eu ia pedir para que contasse a ela sobre
isso, ou me apoiasse na decisão de contar. Como ela reagiu?
- Eu nunca a vi agindo
daquele jeito. Ela estava com um olhar frio, e depois de ouvir meu
pedido de desculpas só pediu para ficar sozinha. Thomas... – fez
uma pausa, pois as lágrimas saíam de seus olhos incessantemente,
respirou o mais fundo que conseguia e continuou – o que nós
fizemos foi errado. Não sei se um dia ela vai me perdoar, mas posso
pedir pra que você me perdoe. Eu passei dos limites... Me desculpa.
- com essas palavras desligou o telefone e se deitou na cama
esperando por uma noite sem dormir.