Visualizações

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Parte 2

Thomas


Thomas naquela noite, não dormiu muito.
Acordou cedo porque tinha se esquecido de fechar as cortinas, e o sol das dez da manhã foi depressa de encontro ao seu rosto no travesseiro. Ao perceber o sol, apertou os olhos e se virou para o outro lado.
Quando se virou, percebeu que tinha aparecido um sorriso no seu rosto lembrando da noite anterior. Sentou-se na cama e coçou a cabeça, pensando no que ia fazer.
Ao se levantar ficou algum tempo parado, olhando pra janela. O dia estava muito ensolarado. Olhou para o criado mudo ao lado de sua cama e viu seu celular, pegou e procurou o número de Clara.
Forçou sua mente para lembrar exatamente como era o rosto dela, mas tinha perdido alguns detalhes, só se lembrava dos olhos verdes. Esfregou os olhos com as pontas dos dedos e foi tomar um banho frio, que era isso que ele precisava.
Enquanto estava no banho, escutou o telefone tocar, e pegou a toalha e saiu escorregando pelo banheiro, correndo para que não perdesse a ligação, pensando que fosse uma ligação de Clara.
- Alô? - disse Thomas segurando no telefone com as mãos ainda molhadas.
- Thomas! Eu sei que é meio cedo, mas tem um tempo pra um almoço?
- Quem é? – disse Thomas sem reconhecer a voz. Apoiou o telefone na dobra do pescoço e secou as mãos.
- Sou eu Thomas, o Charles. Você ta bem?
- Nossa, desculpa Charles.
- Como foi ontem naquele bar estranho, sozinho?
- Se eu te falar que não foi ruim você acredita em mim?
- Claro que não, você odeia esses lugares.
- Não odiei, mas isso não da muito pra contar por telefone, e você como foi ontem no jantar com os pais da Emy?
- O jantar foi bom, eu fiquei um tanto medroso, mas eu também não vo conseguir te contar isso por telefone.
- Vão casar?
Charles fez uma pequena pausa e disse:
- Que horas você pode passar aqui na porta do escritório?
- Daqui a uma ou duas horas...- Thomas fez uma pausa e se lembrou de ter deixado o chuveiro ligado e se apressou em dizer – Tenho que desligar, logo eu chego ai.
Depois de terminar o banho, foi logo pegando o primeiro jeans que viu na frente pra usar e uma camiseta que estava pendurada. Logo pegou as chaves do carro que estavam sobre a estante da sala e saiu do apartamento, ainda com os cabelos molhados.
Quando parou o carro em frente a calçada que Charles estava, esperou até que o amigo entrasse no carro e disse:
- Parece que alguém tem algo pra me contar.
- Vamos naquele restaurante de esquina com meu apartamento, pode ser?
Charles parecia ignorar o que Thomas dizia e estava demonstrando tanta preocupação que Thomas não sabia o que pensar nem o que dizer e apenas confirmou um tanto desconfiado. Ele pensava porque o amigo estava com uma expressão tão apreensiva no rosto e queria saber se tinha dado tudo certo. O que importava era o amigo, ele poderia deixar de pensar em Clara por algumas horas.
Ao chegarem no restaurante, Charles se limitou em não dizer nada até pedir o que queria comer. Thomas ficava só analisando o amigo, depois fez seu pedido. Quando os pratos chegaram pelo garçom em sua mesa, Charles finalmente falou:
 - Acho que a Emy vai terminar comigo.
- Por que você tá falando isso?
- Porque ontem no jantar, ela estava agindo estranho... Eu imaginava que ela sabia que eu queria pedir ela em casamento, mas ela não deu chances pra mim dizer nada pra ela, muito menos pros pais dela. Ela ficava o tempo todo falando de outros assuntos e não olhava pra mim, parecia muito preocupada... Na hora que eu estava indo pro meu apartamento, ela não quis vir comigo e falou que dormiria na casa dos pais dela aquela noite. Foi tão estranho.
- Pode ser coisa da sua cabeça, fica calmo. Tenta ligar pra ela mais tarde, chama ela pra jantar e conversa com ela... Pode não ser isso.
Ficaram os dois comendo em silêncio, até que Thomas tentou um assunto diferente:
- Não quer saber como fui ontem?
- Claro que quero. Pelo jeito só gostou por ter conhecido alguém! - Charles ainda estava apreensivo.
- Vamos cara, não deve ser só isso que tá te preocupando, você quer que eu te leve na casa dela depois do nosso almoço pra vocês conversarem?
- Você faria isso por mim?
- Pelo jeito que você tá, acho melhor nem voltar pro escritório hoje.
- Vou ligar pra adiarem a reunião das cinco pra outro dia, talvez para amanhã, ainda não sei.
- Se quiser ligar agora...
Charles se levantou, pediu licença e foi discando o numero até chegar a porta do restaurante. Ficou alguns minutos do lado de fora enquanto Thomas almoçava. Quando voltou disse que estava tudo certo, e terminaram de almoçar falando pouco e só a respeito do dia e as vezes um elogio para a comida.
No caminho para a casa dos pais de Emy, Charles segurava com força o sinto de segurança como se a qualquer momento o carro fosse bater. Thomas ficava concentrado enquanto Charles falava: “Entra na segunda esquerda, depois na primeira direita...”. Ao chegarem Thomas disse que esperaria no carro.
Depois de duas horas, Thomas já estava com medo. Ele via pela janela da casa os dois na sala em pé conversando sem sorrir, e ficou com medo de que realmente fosse um término, até que de repente viu um abraço extremamente apertado e o sorriso que Charles tinha aberto no rosto acalmou Thomas como uma mamadeira acalma um bebê com fome.
Ao sair da porta da casa, Charles deu um longo beijo em Emy que o abraçou com muito carinho e ele veio caminhando até o carro.
Ao entrar Charles disse:
- Não era nada do que eu tava pensando.
- O que aconteceu?
Charles ficou alguns minutos em silêncio, como se estivesse pensando no que dizer e de repente surpreendeu Thomas dizendo:
- Ela tá grávida! Ontem ela não quis falar sobre nós, porque primeiro queria me contar sobre o bebê, pra depois contar pros pais dela.
- E você não trouxe a aliança com você?
- Não, mas quero fazer surpresa pra ela amanhã, assim que ela chegar no meu apartamento.
Isso vai ser muito legal.
Charles as vezes ria no carro como se alguém tivesse contado uma boa piada para ele. Finalmente charles disse:
- Cara, desculpa! Eu não perguntei direito sobre ontem a noite. Pode me contar agora?
- Claro que conto. Sim, eu conheci alguém. Era isso que você tinha me perguntado no restaurante, e gostei porque conheci ela sim.
- Nossa, fazia tempos que não ouvia você dizer isso de alguém. Como ela é?
-Ah cara, eu não consigo esquecer dos olhos verdes dela e aquele cabelo castanho comprido ondulado... Ela é muito bonita.
- E ai? Qual o nome dela? Sobre o que conversaram?
- O nome dela é Clara. Não lembro exatamente de tudo o que conversamos, foi tudo tão espontâneo que não consigo lembrar muito bem de nada o que disse. As palavras vinham e saiam da minha boca, sem nenhum constrangimento.
- Então ela não é uma garota de bar... E você dizendo que não tava afim de sair ontem porque sabia que não encontraria nenhuma garota interessante, que todas te davam nojo e etc.
- É, me surpreendi.
- Vai ligar pra ela?
- Claro que vou, assim que eu voltar pra casa.
- Desculpa, eu to te atrapalhando né?
- Não, não esta. Foi bom ter te ajudado hoje.
- Mas vocês se beijaram? Algo assim?
- Não, só conversamos! Isso que eu gostei nela, ela nem demonstrou vontade, infelizmente.
- Ou ela realmente não se interessou por você...
- Não fala assim, ela valeria a pena insistir!
Os dois riram juntos e conversaram por mais alguns minutos no carro até Thomas deixar Charles na calçada de seu escritório.
- Brigada cara, se cuida e liga pra ela tá?
Thomas só sorriu para ele e voltou as pressas pro apartamento ansioso para ligar para Clara. Ao chegar no apartamento, era quatro da tarde. Thomas jogou as chaves em cima do sofá e pegou o telefone sem fio. Exitou alguns minutos, mas finalmente pegou o numero e começou a discar.
Tocou algumas vezes e caixa postal.

Clara

Ao chegar a porta do apartamento, não sabia teria recados de thomas, mas mesmo assim entrou as pressas. Ao abrir a porta escutou o ultimo toque do telefone e a mensagem começando a ser gravada que dizia:
- Oi Clara, é o Thomas. Só liguei pra saber se...
O mais rapido que pode, puxou o telefone se sentou no sofá e disse:
- Thomas! Desculpa, acabei de chegar em casa.
Clara estava realmente feliz com a ligação e não sabia que a receberia logo na hora que chegasse em casa. Ela agora estava realmente surpreendida com Thomas.

Thomas

Thomas estava surpreso e ao mesmo tempo muito feliz e nervoso, não sabia o que dizer e não sabia que Clara o atenderia. Ele então tinha ligado na hora certa, e seguido bom conselho de seu amigo. Agora não sabia o que esperar de Clara, mas estava contente por ela tê-lo atendido.

domingo, 17 de abril de 2011

Parte 2


Clara

Depois do longo descanso, Clara queria ter certeza de que a noite anterior tinha acontecido mesmo. Ao se sentar na cama, viu a bolsa numa mesa perto de sua cama e as roupas espalhadas pelo quarto.
Levantou-se ainda descrente em tudo e revirou a bolsa para encontrar seu celular. Ao encontrá-lo, buscou nos contatos o nome de Thomas.
- Achei! Foi verdade então... – disse Clara com um sorriso no rosto.
Ainda desorientada decidiu tomar um banho pra ver se conseguia acordar totalmente.
Ela tinha que se concentrar no banho, porque se deixasse seu pensamento livre ela demoraria horas para sair do banho – como costumava fazer sempre - mas já era tarde e ela tinha que ligar para sua amiga e contar sobre as novidades.
- Sofia? – disse Clara ao ligar para a amiga.
- O... O que? Como ousa me ligar tão cedo? – a amiga respondeu com a voz completamente rouca.
- Não é cedo. Bom, o que importa é que já te acordei mesmo. Que tal um café da manhã com sua amiga hoje? Tenho coisas pra te contar e quero saber da sua noite de ontem também!
- Qual é! Não passou a noite com ninguém não? Tem que vir me ligar essa hora?
- Você já viu que horas são?
A amiga ficou quieta por alguns instantes. Clara escutou o som da janela da amiga se abrindo pelo telefone e alguns passos.
- Oh meu Deus! Cara, já passou das duas e eu ainda achando que era muito cedo! Desculpa amiga.
- Ta, eu espero você tomar banho. Que tal daqui a meia hora naquela padaria que íamos sempre juntas, lembra?
- Hm, tudo bem. Daqui a meia hora estarei lá!
Clara se apressou em abrir o guarda roupa e procurar algo que pudesse vestir. Logo depois pegou a mesma bolsa e as chaves do carro que estavam na sala e saiu. O dia estava muito quente e ensolarado. No caminho para padaria ela não sabia como começaria a contar para Sofia o que tinha acontecido na noite anterior.
Ao chegar teve que esperar mais uns quinze minutos, porque como sempre sua amiga estava atrasada. Clara foi procurar algum lugar pra sentar. Ao se sentar, viu a amiga toda atrapalhada, passando pela porta da padaria com o cabelo ainda despenteado e olhando para todos os lados. Clara balançou o braço e Sofia sorriu.
- Desculpa. Eu sei que to atrasada.
- Normal, só que eu to morrendo de fome.
- Que tal um pedaço de torta? Eu vou ali buscar pra gente.
Depois de alguns instantes Sofia apareceu de novo com as duas tortas na mão, e foi numa pequena geladeira pegar algo pra beber.
- O que você quer? – disse Sofia olhando pra geladeira. – Tem chá gelado serve?
- Pode ser! - Clara pegou a primeira colherada da torta esperando a amiga voltar com as bebidas.
- E aí? Pode começar a me contar porque eu não tenho quase nada a dizer. – disse a amiga depois de tomar um gole do chá gelado. - Ah amiga, se não conheceu ninguém, o jeito mais fácil de acabar a solidão é procurar na agenda o número de algum ex que não te odeie e fazer bom proveito da ligação. – disse Sofia e após dizer isso as duas começaram a rir.
- Não preciso de nenhum ex. – disse Clara.
- Onde se conheceram? Quando? E como?
- Onde e quando... Bem, no bar que eu te disse que ia ontem. Na verdade fui sozinha mais pra ver se encontraria alguém só pra conversar mesmo. Conhecer alguém novo não mata ninguém. Agora vem a parte do como que é bem interessante...
- Um cara de bar? Tem certeza que foi real pra você estar me chamando aqui? Acho que você imaginou tudo e ta me contando esse delírio. – disse Sofia interrompendo Clara.
- Não um cara de bar. Na verdade era um cara em um bar, ele não era como os outros idiotas que estavam lá. Ele parecia que não tava gostando do lugar.
- Bom, eu tenho minha regrinha, a gente conhece um cara pelo que ele ta bebendo... O que ele tava bebendo?
- Beber? Bem, com muito nojo, um copo de cerveja.
- Com nojo? – disse Sofia espantada, ao ver que clara tinha feito uma cara brava pra ela, ela continuou - Ta, deixo pra fazer minhas conclusões depois.
- Então, eu entrei no bar e fiquei procurando uma pessoa pra conversar. Quando um idiota típico veio me oferecer uma bebida eu o dispensei. Depois quando olhei pra esse cara ele já tava com outra menina... Mas, aí começa meu “conheci alguém”. Quando olhei na direção do idiota, vi um cara lindo sentado a umas quatro cadeiras a minha esquerda.
- Que nojo desse cara que você disse, aposto que o outro é igual ele.
- Não fala assim, to esperando pra conhecê-lo melhor.
- Como esse cara lindo era?
- Deixa eu contar por detalhes, depois você vai saber como ele era. Para de ser apressada.
- Ta bom, credo. – disse Sofia encostando as costas na cadeira e bebendo o seu chá.
- Quando o vi, pensei nisso que você pensou, que talvez ele fosse tão idiota quanto os outros, mas não queria ir até ele pra conversarmos, então dei um jeito pra saber se ele tinha reparado em mim. Eu me levantei e fiquei uns segundos longe da cadeira, aí vi ele correndo em direção da porta e dei um jeito de trombar nele.
- Esperta você, mas porque ele tava correndo pra porta?
- Ah, ele disse que estava indo atrás de uma pessoa, mas vou te confessar que não vi ninguém sair do bar depois que eu entrei, então achei isso muito estranho.
Sofia olhou para clara com os olhos bem abertos e se apoiou na mesa com os cotovelos e disse:
- Então ele deve ter pensado que você tinha saído.
- Também pensei nisso.
- É provável, porque se ele disse que tava indo atrás de alguém e depois fica pra conversar com você é bem estranho.
- Ele disse que já tinha perdido a pessoa, então poderia ficar pra uma bebida.
Sofia ficava cada vez mais interessada no que a amiga contava, e o tempo todo, bem humorada dando resposta que faziam as duas rirem juntas. Clara o tempo todo esperando que seu celular tocasse, mas depois de algumas horas levou um grande susto.
- O que foi Clara? – disse Sofia com um olhar estranho.
- Eu acabei de me lembrar que eu dei só o número do telefone fixo pra ele, e se ele me ligar hoje?
- Ah, deixe que a secretária eletrônica atenda. Depois você vê se ele deixou um recado...- fez uma pausa como se acabasse de lembrar de algo e continuou - Mas porque diabos você não passou seu número de celular pra ele?
- Acho que foi a pressa, ou talvez eu tenha passado... Não lembro muito bem.
Sofia começou a rir e perguntou:
- Você tava bêbada?
- Não! Na verdade, só tomei um pouco de tequila, mas nada que afetasse tanto minha memória...
- Ah, tudo bem, ele vai deixar recado se estiver bem interessado.
- Espero que sim. – Clara já estava com a expressão apreensiva e não sabia se voltava pra casa ou se saía pra algum lugar com a amiga.
- Bom, nesse caso... Obrigada pelo “café da manhã de tarde”, mas agora tenho que ir e acho que você também quer ir pra casa. – disse Sofia se levantando da cadeira, deu alguns passos em direção a cadeira de Clara que era de frente pra sua na mesa e apoiou as mãos sobre a mesa e sussurrou no ouvido dela: - Se você ligar pra ele eu te mato! – se pôs de pé novamente e continuou - Acho que o que acabei de fazer foi um juramento.
- Mas...
- Mas nada. Ou liga pra ele e morre sem vê-lo de novo, ou espera que ele te ligue e tenha uma amiga super feliz pela sua atitude. – disse Sofia interrompendo Clara.
- Tudo bem Sofia.
Ambas saíram da padaria, se despediram e Clara voltou ao seu apartamento esperando ansiosamente para apertar o botão “reproduzir” da secretária eletrônica.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A visão de uma noite.

Thomas

Pessoas têm um poder incrível sobre outras pessoas, pensou ele em um certo dia quando estava parado em um balcão preto de um bar qualquer que tinha selecionado naquela noite, observando as outras pessoas do balcão e das mesas. Ele não tinha interesse em ninguém daquele lugar para conversar.
Olhou para uma certa cadeira próxima ao balcão do seu lado esquerdo, onde tinha uma garota sentada. Para ele era mais uma das que estavam ali esperando que alguém pagasse uma bebida, depois a chamasse para dormir junto no seu apartamento depois da longa noite. “O que eu realmente procuro aqui? É um lugar cheio de pessoas com um só maldito pensamento, acho que vou seguir o ditado: os incomodados que se mudem, e sair daqui.” Pensou novamente depois de ver a mesma garota se sentar numa mesa com um cara qualquer dali e o beijar.
Ele tinha uma expressão enjoada no rosto e se sentia o único incomodado com tudo ao redor. Ao olhar para seu lado direito, viu mais uma garota. Aquela poderia chamar a atenção de qualquer um, ou como ele mesmo sabia que tinha um gosto peculiar para aparências, pensou que talvez ela só tivesse chamado a atenção dele.
Ela sentava-se a umas quatro cadeiras de distância dele e não parecia esperar por ninguém. Ele queria se aproximar, mas isso soaria como qualquer um dos homens dali.
____
Clara

Ela pensava no que pedir, e as vezes se perguntava: “o que estou fazendo aqui?”. Pediu uma dose de tequila, quando molhou os lábios se lembrou do quanto o sabor, o odor e a textura do álcool era desagradável. Fez uma cara enojada e decidiu levantar-se.
Antes de se levantar, ela decidiu procurar algo pra fazê-la ficar. Sentiu que a música também não era de seu agrado e pensou se talvez teria alguém interessado em conversar, sem segundas intenções. Primeiro buscou por alguma garota com expressão amigável, mas todas que olhava pareciam mais interessadas nos caras típicos, com camisas mais apertadas.
- Posso te pagar uma bebida gata? – disse um dos caras que parecia mais um clichê ambulante. Era como todos os outros caras de bar. Ela tinha que dar uma resposta que não gastasse muita saliva e que fosse o mais direta possível.
- Não. - disse ela sem perder muito tempo em olhar para a cara do garoto depois de dizer isso, mas disse da forma mais clara e direta possível.
Quando se deu o trabalho de olhar novamente na direção do cara que acabara de sair do seu lado, ele já estava pagando uma bebida pra outra garota mais interessada. Na hora em que estava voltando o olhar pra seu copo de tequila, percebeu um que parecia diferente dos outros que estavam ali, mas talvez fosse daqueles que qualquer garota desejaria, ou talvez como ela mesma sabia que tinha um gosto peculiar para aparências, pensou que ele pudesse só ter chamado a atenção dela. Ele olhava meio enojado para o bar todo e parecia bastante desconfortável. Ela queria se aproximar, mas não queria parecer vulgar. Depois de muito pensar, decidiu esperar que ele a notasse.
_____
Thomas

Ele observou o copo de cerveja a sua frente. Não sabia se tomava para se encorajar, ou se jogava tudo fora. Ele odiava cerveja, mas as vezes ele gostava. Quando tentava descrever o gosto da cerveja, costumava comparar com água com gás e bastante ferrugem. Preferiu não beber ainda. Pensou durante longos minutos no que poderia fazer, mas tudo soava muito igual. Quando olhou novamente para o lado onde a garota sentava, encontrou a cadeira vazia. Ele não sabia o que fazer, pensou que ela já tivera saído, então decidiu sair atrás dela. Não percebeu que estava andando rápido demais e acabou esbarrando em uma garota. Parou para se desculpar, mas ainda olhava para a porta, pois ela poderia entrar de novo a qualquer momento. Depois de alguns segundos encarou a porta um tanto decepcionado, então resolveu encarar a menina que tinha esbarrado.
- Desculpa eu pensei que ia dar tempo de passar na sua frente, mas você estava rápido demais. - disse ela.
Ele não acreditava que ali na sua frente estava a garota que estava observando por tanto tempo no bar, ele nem tinha notado que ela não tinha saído, mas só se levantado. Ficou alguns longos segundos segurando de leve a pele macia de seu braço, e olhando de perto seus olhos num tom de verde que ele nem imaginava que existia.
_____
Clara

Ela agora tinha conseguido falar com o cara que tanto olhava, mas não sabia se tinha dito a coisa certa, só sabia que agora ele estava ali parado a sua frente. Ela sentia um pouco de dor no braço, pois o esbarrão tinha sido forte, mas ele a olhava como quem queria conversar.
- Eu estava indo atrás de uma pessoa e não tinha visto você. Como estava desatento! Desculpe. – disse ele ainda segurando seu braço.
- Tudo bem, a culpa foi metade minha. Espero não ter te machucado.
- Não me machucou, mas acho que eu te machuquei. – disse ele desviando o olhar para o braço dela um pouco avermelhado.
- Não, isso não foi nada. – ela sorriu para ele e continuou - Bem, acho melhor você correr, porque a pessoa que saiu deve estar dobrando a esquina agora. Desculpe ter trombado em você.
Ela agora estava um pouco mais confiante, mas mesmo assim preferiu tentar se sentar de novo, se ele quisesse ofereceria uma bebida.
_____
Thomas

Ele não sabia se fingia procurar a pessoa, ou se a chamava para uma bebida, mas quando percebeu ela já estava indo se sentar, então ele disse:
- Eu já devo ter perdido a pessoa mesmo, então eu posso...
- Tomar uma bebida? – interrompeu-o ela. Ele ficara realmente surpreso com o que ela disse, mas se sentou ao lado dela pegando o copo de cerveja que tinha deixado de lado.
- Eu, na verdade, detesto álcool. Até tentei uma tequila, mas só de umedecer o lábio já fiquei mal.
- Não vou dizer que sou grande fã, mas também não odeio. - disse ele enquanto levava o copo até o lábio, após um gole continuou- Realmente, eu até suporto, mas não tem nada de bom em cerveja.
Ela sorriu.
Ele não sabia o que deveria ou não dizer, e ficava montando mil frases na cabeça que poderiam servir pra ocasião, mas desistia de falar quando percebia que ela ia falar.
- Você mora por aqui?- disse ela levantando o copinho de tequila com tanto cuidado, como se tivesse uma barata dentro.
- Ah, bem... Não é tão perto...
- Se não souber explicar tudo bem, só queria saber se você não era de outro país...-tomou toda a tequila do copo e continuou - ou algo assim. Droga! Como odeio esse negócio!
Eles deixaram escapar risos.
- Qual o seu nome? – disse ele.
- Clara, e o seu?
Ele nunca tinha conhecido ninguém que combinasse tão bem com o nome quanto ela. Ela tinha a pele muito branca, os olhos eram muito brilhantes e seus cabelos eram longos e ondulavam em torno do corpo com uma tonalidade de castanho claro diferente que acentuava as sardas em torno de seu nariz.
- Thomas.
______
Clara

Ela sabia agora que encontrara alguém para conversar. Achou o nome bastante bonito e combinava com o cara bonito a sua frente. Ela quis observar melhor seus cabelos pretos, curtos e livres sobre a cabeça. Thomas era um pouco mais alto que ela, com a pele clara. Nos olhos dele brilhavam um cinza surpreendente,
Clara não sabia bem o que devia falar, mas as palavras sempre saíam dela sem precisar de muito esforço. Thomas era um cara muito legal.
- Quantos anos você tem Clara?
- Tenho vinte e dois e você? –  deu uma pausa para ver se conseguia pensar numa idade para ele, ela adorava adivinhar a idade das pessoas. – Vinte e cinco? Acertei?
- Faço vinte e seis mês que vem, então acertou sim!
_____
Thomas

Eles conversaram por mais duas horas, já era tarde da noite e ambos estavam contentes com a companhia um do outro. Thomas não se importava com o horário, queria Clara ali por vários dias se pudesse. Até que quando se deram conta, o bar já estava totalmente vazio. Clara foi a primeira a reparar nisso e quando olhou no relógio tomou o maior susto do dia.
Thomas não queria que o tempo tivesse passado tão rápido. Clara era realmente uma boa companhia.
Ao saírem juntos do bar, Clara estava toda atrapalhada procurando em sua bolsa a chave do carro, enquanto Thomas pensava em como pedir o telefone dela. Quando encontrou as chaves clara disse:
- Qual o seu numero?
Thomas não esperava que ela fosse perguntar e disse:
- O que?
- O seu número? Telefone, sabe? Então... Se não quiser passar tudo bem, tenho que ir logo mesmo, desculpa...- disse clara dando de ombros e indo em direção a um carro vermelho.
- Não, espera!
Clara olhou novamente para ele e disse:
- Ah, esqueci de perguntar... Você quer uma carona?
Thomas ainda estava um pouco confuso, mas tinha carro e não precisava da carona. Depois de um tempo disse:
- Me passe você seu número, acho que é melhor eu te ligar... Fica mais educado ao menos que você prefira me ligar porque é muito ocupada...
Clara sorriu e por fim ambos anotaram os telefones. Thomas tinha medo de que aquilo acabasse aquela noite.
______ 
Clara

Ao anotar o telefone de Thomas, ela não sabia muito bem se aquilo seria realmente tão bom uma segunda vez como tinha sido na primeira. Ela se surpreendeu com tanta gentileza.
- Boa noite Thomas, até breve.
- Boa noite.
Ela se virou e caminhou em direção ao carro. No caminho de volta pra casa só pensava no quanto Thomas era divertido e interessante. Sabia que ele era diferente de todos os outros caras. Só queria formular uma opinião quando eles se vissem uma segunda vez, porque a primeira vez é sempre melhor pelo menos era como Clara via as coisas.
Ao deitar em sua cama, Clara só tinha um desejo, ela pedia para que aquela noite tenha sido real, porque se fosse um sonho ia ficar desejando que tudo aquilo acontecesse realmente para poder ligar para ele e o encontrar de novo. 
- Isso eu só vou saber amanhã de manhã. – disse Clara se ajeitando na cama. Depois bocejou e pegou no sono

Thomas

Quando Thomas entrou em seu apartamento, ficou por algumas horas com medo de que aquela noite tenha sido um sonho, era tudo tão engraçado e ao mesmo tempo confuso. Ela não era como as outras, disso ele tinha certeza. Eles não se beijaram e muito menos trocaram qualquer tipo de elogios mal intencionados. Tudo nela era tão interessante e diferente que ele tinha medo de que um segundo encontro estragasse essa primeira impressão tão boa. Ao deitar em sua cama olhando para o telefone, Thomas não via a hora de passar alguns dias ou só de amanhecer para poder ligar para ela.
Passou-se alguns longos minutos de ansiedade e finalmente Thomas pegou num sono profundo.


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Não quero mais lembrar de suas costas indo ao elevador.

Hoje eles decidiram sentar e conversar. Por muito tempo, eles não tiveram tempo mas agora algo estava diferente.
Ela sentada na poltrona, observando o cômodo porque fazia uns anos que não entrava ali. 
Ele no sofá, pensando no que poderia dizer já que se sentia dono de toda a culpa. Ele segurava a beirada do sofá e apertava tão forte que parecia que a qualquer momento poderia rasgar.
- Não mudou quase nada por aqui. – disse ela fitando do teto a porta. – Pelo que reparei não mudou nada...- continuou. Depois de alguns minutos de silêncio, ela voltou seus olhos para ele e percebeu que ele não conseguia desviar os dele. Ficou ali parada o encarando e passou as mãos sobre os braços da poltrona. Respirou fundo e enfim ele disse:
- Sempre gostei das coisas assim... Bem, acho que nunca pensei em mudar.
Ela fez um aceno com a cabeça. 
Os dois não se sentiam a vontade, estavam sem saber o que fazer e optavam pelo silêncio que deixava o ar cada vez mais pesado. Ela percebeu que a visita dela ali não tinha sido em vão, aquela ligação que ele tivera feito pedindo que ela estivesse alí naquele momento não era em vão. Ela mordeu os labios e então decidiu falar:
- Por que me chamou aqui?
De repente ele soltou a parte que estava segurando no sofá e disse:
- Você sabe que precisamos conversar.
- Sim eu sei, mas você fica parado com medo de falar. Cansei desse silêncio! - ela se levantou e foi pegar sua bolsa e as chaves do carro que estavam em cima de uma mesa de vidro, quando deu alguns passos ele a segurou pelo braço esquerdo. Ela evitava ao máximo demonstrar qualquer sentimento e por isso não conseguia olhar nos olhos dele.
- Desculpa tomar seu tempo. A única imagem que não sai da minha cabeça é a de você saindo pela porta do meu apartamento e andando em direção ao elevador no fim do corredor... Você nunca se vira nem pra dar um sorriso.- disse ele olhando para as costas dela, esperando que dessa vez fosse diferente.
- A única coisa que me lembro é eu andando até seu elevador sem que você me chame uma ultima vez. Eu sempre esperei de você algo mais que você nunca me deu.
- Não que eu nunca tivesse vontade de ter feito mais por você, mas isso é algo... Bem, eu nunca tive mais a oferecer, o que tive guardei para te ligar e agora estou retirando de mim tudo o que tenho pra não te deixar ir.
- Eu tirei tudo de mim pra te esperar fazer isso, agora não tem porque eu ficar sem um motivo dessa conversa. Por que você me chamou aqui? - ela se virou para ele, esperando uma resposta que a surpreendesse mais do que a ligação que recebera dele. Eles ficaram por algum tempo fitando um ao outro. Ela respirou bem fundo e com todo o seu fôlego continuou: -Não sei, vim aqui pra entender. Se tudo o que você esta falando é verdade, mostra pra mim...
- Eu nunca quis que você partisse, sei que errei. Nunca fui o que você esperava, sempre quis te surpreender de algum modo, mas nada o que eu fazia parecia suficiente. A culpa é minha. - disse ele enterrompendo-a.
- Não vim aqui pra ouvir você se desculpar. Você sempre se desculpa pelas coisas e não toma atitude pra mudar. Vou embora!- ela repuxou o braço com força, mas ele ainda a segurava. Era como uma algema a um poste de ferro preso ao chão, ela não podia se mover e isso ao mesmo tempo a magoava e a deixava com medo.
- Você não vai embora. - ele ainda a segurava com força e tinha medo de a machucar, mas ele precisava dizer o que sentia. - Eu não quero mais lembrar de suas costas, de você andando sem uma expressão no rosto. Quero saber o que sente, se é ódio, se você me ama... Qualquer coisa serve pra mim, isso vai me dizer o que fazer depois do dia de hoje. 
- Eu... - ela não sabia exatamente o que sentia, mas sabia que não tinha nada de ruim como ódio. - Você acha que se eu te odiasse eu teria ainda voltado aqui?
- Mas pode ser que essa seja a ultima vez... E eu não quero que seja. Eu te amo.
Ela não podia mais controlar as emoções, seus braços tremiam e agora ela não tinha mais medo, ela queria que aquilo tivesse um bom fim. Ele tentou colocar todas as forças que tinha em uma atitude diferente e isso fez dele alguém mais forte, ja pode dizer em palavras que era amor, agora tinha que demonstrar. 
Ela colocou a mão direita sobre seu braço esquerdo que ele ainda segurava. Ela deslizou a mão até encontrar a dele, ele também tremia, pressionou a mão sobre a dele que agora afrouxara e sorriu.
Ele se sentia inseguro, mas decidiu que assim que ele queria ficar. Um abraço e um longo beijo trouxe a lembrança pra ele de quando ele acordava de manhã e a via ao seu lado na cama, lembrou do dia que sentiu as mãos finas e macias acariciarem seu rosto, lembrou de filmes de comédia com ela. Ele pensava nisso e não sabia que a mente dela também estava repleta dessas lembranças todas como um filme que todos os dias ela gostava de lembrar.
Depois disso, eles não buscavam o pra sempre. Era tudo tão incerto, mas a incerteza que fazia com que eles dessem valor ao aqui e agora. Ela continuava a caminhar até o elevador, mas não era mais sozinha, ele a levava pois não desejava mais ver suas costas e sim seu sorriso que era muito melhor de lembrar.