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domingo, 9 de janeiro de 2011

O som dos vagões de ferro se aproximando.

Era inverno. Ela com as mãos no bolso de seu casaco de frio mais quente, esperando aquilo que a levaria pra longe do que tentava deixar pra traz. Mente vazia e coração cheio. Na mochila uma caderneta, algumas peças de roupa, dinheiro e um celular. Tirou a mão direita do bolso e levou-a até a cabeça para arrumar o gorro branco que protegia parte da sua cabeça do frio.
Se se encostou à parede do fundo da estação e se deixou deslizar para sentar-se no chão. O olhar era solto. Algumas pessoas entrando e saindo daquele lugar. Algumas se abraçando e desejando boa viagem ou simplesmente dizendo adeus. Ela detestava tanto despedidas que não anunciou sua partida a ninguém.
Finalmente o que ela esperava já estava parado de portas abertas esperando sua decisão. Ainda havia tempo de desistir, ainda havia tempo de voltar atrás no que estava fazendo, havia tempo para aqueles abraços que transmitiam calor... Havia tempo para se sentar no sofá e apreciar enquanto ele andava pela sala, havia tempo... Havia tempo para amar.
Olhou para o céu que não conseguia contemplar por conta da neblina, imediatamente passou a reviver um acontecimento de um determinado tempo antes. O mesmo céu cheio de neblina ela já havia contemplado, e naquele instante voltou como numa máquina do tempo até aquele dia. Sentiu a mão dele encostar-se à sua. Olhou para o lado e o viu, ele sorriu para ela da mesma forma que sempre fazia. Para ela, nunca importava o que estavam fazendo, ela poderia estar em qualquer lugar, mas o que era necessário para ser sempre bom era a presença dele.
Não se permitiu demorar naquela lembrança, pois tinha que se decidir. Olhou para as portas ainda abertas e não estava mais tão decidida quanto quando tinha chegado ali. O som do celular dela tocando saltou da mochila.
- Não. – disse a voz do outro lado.
Ela ainda estava em silêncio e já tinha reconhecido a voz dele, mas o número era desconhecido.
- Não, não vai embora. – sussurrou ele.
A expressão dela havia mudado, estava com os olhos arregalados. Como ele sabia? Onde ele estava?
- Corri, procurei por você. Ninguém sabia, imaginei que talvez fosse embora... Sabia que não queria se despedir, mas eu te peço que não vá.
- Onde você esta? – disse ela com o ultimo fôlego que restava antes de chorar.
- Eu não estou muito longe de casa, espero que você também não esteja... Seja lá onde você estiver eu quero te buscar.
- Não posso. – os soluços foram inevitáveis.
- Não pode? Você não quer ir, eu sinto que não quer.
- Eu preciso... Você não entenderia... Vo...
- Não quero que vá.
De repente o som das portas do trem se fechando se fez ouvir. O trem tomava o impulso e começou a partir.
- Estação de trem! – disse ele, surpreso.
- Não! Não quero que venha pra cá!
O outro lado era mudo, então ela sabia que ela realmente não queria ir, ela queria ficar. Não sentia vontade de partir. As lágrimas continuavam saindo de seus olhos. Tirou o passaporte do bolso, se levantou e caminhou até a saída da estação. Na porta tinha uma lata de lixo, rasgou o passaporte e lançou-o ali. Ela caminhava, até que sentiu os braços dele envolvendo-a.
- Se precisar, te segurarei aqui pra sempre. – disse ele. – Prometa nunca mais partir.
Ela afrouxou os braços dele e se virou para olhá-lo nos olhos. Um beijo longo e um abraço apertado. Ela já sentia falta daquilo e sabia que talvez não agüentaria uma hora longe disso. Longe dele, longe do calor, longe do amor...


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