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domingo, 16 de janeiro de 2011

O bêbado em sua sanidade.

Estava sentado e apoiado com as costas na cabeceira da cama, ele esperava. Ficou ali por horas fitando o telefone que não tocava. O que ele sentia foi mais do que podia controlar. Discou. A cada segundo que se passava esperando uma resposta o coração palpitava emoção. Fazia muito tempo que não se deixava aventurar daquela forma, tinha certeza que não seria respondido. Pela oitava vez naquela semana a caixa postal fez as honras de respondê-lo. Colocou o telefone no gancho novamente. Não era mais a vontade de dizer o que sentia que o machucava, doía mais não ouvir a voz dela por quase dois meses.
-Tudo bem. Um mês, doze dias, quatro horas... Acho que desisto. - pensou.
Ele tentava buscar respostas, ele buscava encontrar consolo em qualquer coisa que pudesse fazê-lo esquecer... Na verdade, ele sabia que não ia esquecer, mas queria encontrar algo que pelo menos distraísse a mente dele.
Drogas, festas, elas... Adiantavam por algumas horas. Depois de acordar sobravam as dores, as desculpas que tinha que inventar para sair da companhia de uma desconhecida, a sensação de vazio. Para ele de nada adiantou notar depois de tanto tempo que a vida dele não era a mesma sem ela. De nada adiantou ligar, procurar, se drogar. No final nada mudava. Restava perceber que ela não voltaria, que o tempo o curaria desse mal chamado amor e que nada que pudesse trazer ressaca era bom para ele.
Nas primeiras semanas se pegava às vezes discando os malditos números, mas quando percebia que não daria certo como nas vezes anteriores, desistia. Nessa fase ele só tinha duas opções: esquecer, ou esquecer. Nenhuma delas era fácil, mas o esforço que ele fazia pra trazer o passado de volta era pior.
Era assombrado por boas lembranças, as ruins eram um alívio às vezes. Ele pensava as vezes se não sabia amar, mas se confundia pensando se era realmente amor. Um dia talvez ele poderia ter sido essa decepção pra alguém, um dia ela talvez já tivesse estado no lugar dele...
- Um dia inventarão uma vacina pro amor, vão curar todo mundo desse mal. Você já sofreu por amor? Olha, vou te falar... Se inventassem essa vacina, eu seria a cobaia. Pode testar tudo em mim, uma seringa cheia. – disse um bêbado que sentou ao lado dele em uma festa, sabia que essa esperança era totalmente incerta, mas no fundo ele esperava o mesmo, e talvez todos do mundo esperassem o mesmo. Esse mesmo bêbado completou:
- Tanto faz quem seja você, não importa. Se você já conheceu sentimentos, sabe como é ruim amor não correspondido. Estou assim pelo mesmo motivo que muita gente decide se matar. Já chegou a querer casar e ter filhos?
- Já pensei nisso. – respondeu ele.
- Eu tinha acabado de sair da loja com o anel de noivado, faz um tempo... – o homem fez uma pausa, tentando se lembrar quanto e completou - Dois meses! Eu tava feliz cara, cheguei no apartamento dela com rosas... Muito brega? Ela achava romântico, aí quando mostrei o anel ela disse que estava indo embora e que ia me contar naquela noite. Não sabia se jogava a caixa com o anel na cara dela, se jogava as rosas... Bem, eu só saí, virei as costas pra ela, joguei as rosas no chão e fui embora.
- Sinto muito cara.
- Ela nunca mais atendeu meus telefonemas, odeio aquela maldita secretaria eletrônica. Por isso eu repito: Não importa quem você é, o amor um dia vai infectar você e levar a vontade de viver, vai te jogar pro canto e te forçar a lembrar de coisas boas, te forçar a ligar, mandar flores, dar tudo o que você tem... O pior disso tudo é que você vai fazer isso sem querer nada em troca e vai ser a pessoa mais feliz do mundo, depois que você perde isso você continua querendo uma dose extra disso tudo. Você vai procurar por uma dose extra de amor, uma dose extra dela e vai acabar aqui como eu, ou vai conviver com as lembranças pra sempre. Porque você sabe que amor é pra sempre e... – os soluços do choro do homem o fizeram parar.
Depois a conversa continuou. Ele entendia tudo o que o homem estava dizendo, também se sentia assim, mas por falta de coragem não se juntava à depressão e aos goles. O bêbado tinha razão, só estava interpretando de uma forma diferente.
Tudo fazia sentido, o mal do amor todo mundo sofre. Mas o bem dele é o que nos faz continuar simplesmente... Amando.

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