Visualizações

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Recebi um sorriso extremamente simpático.


Estava eu na mesa de uma lanchonete que costumava ir a uns anos atrás com minha mãe. Tinha uma latinha de chá gelado, bem na minha frente esperando para ser aberta e tomada. Tinham as mesmas mesas que costumava ver quando freqüentava o lugar com minha mãe. Essas mesas tinham cadeiras de costas para a porta e de frente para a porta de entrada da lanchonete, eu me sentava numa cadeira de frente para a porta.
Observando as gotas de suor que escorriam da latinha, voltei meus olhos para a porta. Aquela imagem com cabelos leves me tomou toda a atenção. Os olhos brilhavam com a luz que entrava pela porta e batia no piso de azulejos brancos, eram olhos azuis. Ele gesticulava ao balconista mostrando o que ele queria. Depois de pegar o pedido foi até o freezer que estava encostado na parede esquerda duas mesas depois da minha, pegou o mesmo chá que eu estava tomando.
Eu ainda totalmente concentrada em cada detalhe. Ele se dirigiu até a mesa que estava na minha frente e se sentou de frente pra mim. Ainda não tinha percebido que eu o observava tanto, então começou a comer. Tudo nele era extremamente diferente de qualquer pessoa normal, nunca tinha conhecido traços tão definidos em um rosto, nunca vi alguém com olhos tão brilhantes e cabelos tão leves. Quando senti que ele levantaria os olhos em minha direção, consegui me forçar a voltar os olhos para as gotas que desciam da latinha até a mesa da lanchonete.
Depois de alguns segundos assim, voltei os olhos para ele. A pele era como se fosse de uma criança, sem imperfeição alguma, quase tão branca quanto a minha. Num impulso me levantei, tomando a latinha na mão, me direcionei até o balconista com um papel branco que marcava R$ 2,50. Retirei cinco reais de um dos bolsos da calça e entreguei nas mãos do balconista. Ao esperar o troco, me virei novamente para apreciar aqueles traços que era provável que nunca mais veria novamente. Nossos olhos se encontraram e senti uma grande vontade de me aproximar para conhecê-lo. A única coisa que recebi foi um sorriso extremamente simpático, que com muito esforço consegui retribuir. De fundo ouvi uma voz chamando:
- Moça, moça! – na segunda vez ele tinha falado mais alto e claro.
Voltei-me na direção da voz.
- Desculpe.
- Seu troco.
- Obrigada. – disse eu, colocando o dinheiro no bolso. Meus olhos voltaram na direção dos dele e quando cheguei a porta da lanchonete, abri meu chá e sorri novamente para ele.
A sensação que eu tinha enquanto caminhava de volta para algum lugar que não sabia onde era que uma pessoa como aquela provavelmente não supriria todas as minhas expectativas na personalidade, ou talvez supriria. Dando de ombros aquela situação estranha, voltei a olhar na porta da lanchonete e lá estava ele sentado na mesa me acompanhando com os seus olhos brilhantes e azuis. Ele novamente sorriu e se voltou para a mesa. Ao olhar para a rua novamente o sol era forte e veio de encontro aos meus olhos e os fechei.
Abrindo os olhos eu estava no meu quarto, já era de manhã e a luz do sol que batia em minha janela havia sido a culpada por me fazer perceber que aquilo era um sonho.
Realmente pessoas como aquela não existem e situações como aquela não acontecem comigo.
Peguei-me pensando ao acordar que ele poderia ser você, mesmo não tendo todos aqueles traços inconfundíveis, você me impressionou tanto quanto ele. Você é real, palpável e eu tive a chance de tê-lo por alguns momentos. Se eu controlasse meus sonhos, talvez colocaria no lugar dele você, no lugar da troca de sorrisos a troca de beijos e abraços e no lugar da lanchonete... Bem, no lugar da lanchonete poderia ser qualquer lugar contanto que fosse você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário